O QUE É FILOSOFIA
A palavra filosofia é
de origem grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de
philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia
quer dizer sabedoria e dela vem à palavra sophos, sábio.
Filosofia significa,
portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo: o que
ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. Assim a filosofia indica
um estado de espírito da pessoa que ama, isto é, daquela que deseja o
conhecimento, o estima, o procura e o respeita.
Pitágoras de Samos
teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os
homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. “Quem quiser ser
filósofo necessitara infantilizar-se, transformar-se em menino”. (M. Garcia
Morente).
A FILOSOFIA GREGA
A filosofia, entendida
como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade
natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da
origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato
tipicamente grego. Evidentemente, isso não quer dizer, de modo algum que outros
povos, tão antigos quanto os gregos, como os chineses, o hindus, os japoneses,
os árabes, os persas, os hebreus, os africanos ou os índios da América, não
possuíam sabedoria, pois possuíam e possuem. Não quer dizer que todos esses
povos não tivessem desenvolvido o pensar e as formas de conhecimento da
Natureza e dos seres humanos, pois desenvolveram e desenvolvem. Os chineses
desenvolveram um pensamento muito profundo sobre a existência de coisas, seres
e ações contrárias ou opostas, que formam a realidade. Deram às oposições o
nome de dois princípios: Yin e Yang. Yin é o principio feminino passivo na
Natureza, representado pela escuridão, o frio e a umidade; Yang é o principio
masculino ativo na Natureza, representado pela luz, o calor e o seco. Os dois
princípios se combinam e formam todas as coisas, por isso, são feitas de
contrários ou de oposições. O mundo, portanto, é feito da atividade masculina e
da passividade feminina. Já no pensamento grego, por exemplo, o próprio
Pitágoras diz que a Natureza é feita de um sistema de relações ou de proporções
matemáticas produzidas a partir da unidade (o numero 1 e o ponto), da oposição
entre os números pares e impares, e da combinação entre as superfícies e os
volumes (as figuras geométricas), de tal modo que essas proporções e
combinações apareçam para nossos órgãos dos sentidos sob a forma de qualidades
contrárias: quente-frio, grande-pequeno, seco-úmido, áspero-liso, claro-escuro,
duro-mole, etc., para Pitágoras, o pensamento alcança a realidade em sua
estrutura matemática enquanto nossos sentidos ou nossa percepção alcançam o
modo como à estrutura matemática da Natureza aparece para nós, isto é, sob a forma
de qualidades opostas. A filosofia é um modo de pensar e exprimir os
pensamentos que surgiu especificamente com os gregos e que, por razões
históricas e políticas, tornou-se, depois, o modo de pensar e de se exprimir
predominante da chamada cultura européia ocidental, da qual, em decorrência da
colonização portuguesa do Brasil, nós também participamos. Através da
filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os
princípios fundamentais do que chamamos de razão, racionalidade, ciência,
ética, política, técnica, arte. Aliás, basta observarmos que palavras como
lógica, técnica, ética, política, monarquia, anarquia, democracia, física,
zoológico, farmácia, entre muitas outras, são palavras gregas, para percebemos
a influência decisiva e predominante da filosofia grega sobre a formação do
pensamento e das instituições das sociedades européias ocidentais.
O LEGADO DA
FILOSOFIA GREGA PARA O OCIDENTE EUROPEU
Por causa da colonização européia das
Américas, nós também fazemos parte – ainda que de modo inferiorizado e
colonizado – do Ocidente europeu e assim também somos herdeiros do legado que a
filosofia grega deixou para o pensamento ocidental europeu. Desse legado,
podemos destacar como principais contribuições as seguintes: • A idéia de que a
Natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e universais, isto é,
os mesmos em toda parte e em todos os tempos. A lei da gravitação afirma que
todo corpo, quando sofre a ação de outro, produz uma reação igual e contrária
que pode ser calculada usando elementos da massa do corpo afetado, a velocidade
e o tempo com que à ação e a reação se deram. Essa lei é necessária, isto é,
nenhum corpo do Universo escapa dela e pode funcionar de outra maneira que não
desta; e esta lei é universal, isto é, é válida por todos os corpos em todos os
tempos e lugares. • A idéia de que as leis necessárias e universais da Natureza
podem ser plenamente conhecidas pelo nosso pensamento não são conhecimentos
misteriosos e secretos, que precisariam ser revelados por divindades, mas são
conhecimentos que o pensamento humano, por sua própria força e capacidade, pode
alcançar. • A idéia de que nosso pensamento também opera obedecendo a leis,
regras e normas universais e necessárias, segundo as quais podemos distinguir o
verdadeiro do falso. • A idéia de que as práticas humanas, a ação moral, a
política, as técnicas e as artes dependem da vontade livre, da deliberação e da
discussão, da nossa escolha passional (ou emocional) ou racional, de nossas
preferências, segundo certos valores e padrões, foram estabelecidos pelos
próprios seres humanos e não por imposições misteriosas e incompreensíveis, que
lhes teriam sido feitas por forças secretas, invisíveis, sejam elas divinas ou
naturais, e impossíveis de serem conhecidas. • A idéia de que os acontecimentos
naturais e humanos são necessários, porque obedecem a leis naturais ou da
natureza humana, também podem ser contingentes ou acidentais, quando dependem
das escolhas e deliberações dos homens, em condições determinadas. Um dos
legados mais importantes da filosofia grega é, portanto, essa diferença entre o
necessário e o contingente, pois ela nos permite evitar o fatalismo – “tudo é
necessário, temos que nos conformar e nos resignar” –, mas também evitar a
ilusão de que podemos tudo quanto quisermos, se alguma força extra-natural ou
sobrenatural nos ajudar, pois a natureza segue leis necessárias que podemos
conhecer e nem tudo é possível, por mais que queiramos. • A idéia de que os
seres humanos, por natureza, aspiram ao conhecimento verdadeiro, a felicidade,
a justiça, os seres humanos não vivem nem agem cegamente, criam valores pelos
quais dão sentido as suas vidas e as suas ações. A filosofia surge, portanto,
quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com
as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar
respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os
acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidas pela razão humana, e que
a própria razão é capaz de conhecer a si mesma. Em suma, a filosofia surgiu
quando se descobriu que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e
misterioso, que precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos,
mas, ao contrário, podia ser conhecida por todos, através da razão, que é a
mesma em todos; quando se descobriu que tal conhecimento depende do uso correto
da razão ou do pensamento e que, além da verdade poder ser conhecida por todos,
podia, pelo mesmo motivo, ser ensinada ou transmitida.
AS CONDIÇÕES
HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA
Podemos apontar como
principais condições históricas do surgimento da filosofia na Grécia: • As
viagens marítimas – que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os
mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados
por outros seres humanos; e que as regiões dos mares que os mitos diziam
habitadas por monstros e seres fabulosos não possuíam nem monstros nem seres
fabulosos. As viagens produziram o desencantamento ou a desmistificação do
mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, explicação
que o mito já não podia oferecer; • A invenção do calendário – que é uma forma
de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos
importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de abstração
nova, ou uma percepção do tempo como algo natural e não como um poder divino
incompreensível; • A invenção da moeda – que permitiu uma forma de troca que
não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados
por semelhança, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelo calculo do valor
semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de
abstração e de generalização; • O surgimento da vida urbana – com predomínio do
comercio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de
troca, e diminuindo o prestigio das famílias da aristocracia proprietária de
terras, por quem e para quem os mitos foram criados; • A invenção da escrita
alfabética – que, como a do calendário e a da moeda, revela o crescimento da
capacidade de abstração e de generalização, uma vez que a escrita alfabética ou
fonética, diferentemente de outras escritas – como, por exemplo, os hieróglifos
dos egípcios ou os ideogramas dos chineses –, supõe que não se represente uma
imagem da coisa que está sendo dita, mas a idéia dela, o que dela se pensa e se
transcreve; • A invenção da política – que introduz três aspectos novos e
decisivos para o nascimento da filosofia: 1. A idéia da lei como expressão da
vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para
si e como ela definirá suas relações internas. 2. O surgimento de um espaço
publico que faz aparecer um novo tipo de palavra ou de discurso, diferente
daquele que era proferido pelo mito. 3. A política estimula um pensamento e um
discurso que não procuram ser formulados por seitas secretas dos iniciados em
mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrario, ser públicos, ensinados,
transmitidos, comunicados e discutidos.
TELES DE MILETO
Tales de Mileto nasceu
em Mileto, na Ásia Menor, atual Turquia, entre 600 e 550 a.C. Ele vendia azeite
nas cidades do litoral do Mediterrâneo. Tales foi o primeiro filósofo grego a
introduzir a geometria na Grécia. Tales de Mileto andava muito pela a cidade,
em uma dessas andanças teve o privilégio de conhecer obras de vários
matemáticos e astrônomos da região. Estudou retas e ângulos e fez demonstrações
formais rigorosas do triângulo isósceles. Tales de Mileto chegou a calcular o
tamanho de uma pirâmide, através do comprimento da sombra projetada pela
pirâmide, e ele fazia esses cálculos em um determinado tempo, dependia do sol e
do horário. Esses cálculos facilitaram muito, pois assim, não precisaria
escalar cada uma. Tales de Mileto chegou a medir a pirâmide Quéops (uma das
três maiores pirâmides do mundo conhecida como uma das sete maravilhas). Tales
defendia a existência da água, pois ele achava que a água era o “genes”, ou
seja, a origem de todas as coisas. Registrou também que tudo o que se conhece,
era composto por quatro elementos: água, fogo, ar e terra. Ele também antecipou
com acerto um evento astronômico que estava por acontecer, o eclipse do sol em
585 a.C. Tales ao aposentar, resolveu dedicar apenas à matemática e acabou por
estabelecer os primeiros postulados básicos da geometria. Como nenhum de seus
escritos chegou aos dias de hoje, suas idéias filosóficas foram conhecidas
graças à obra Metafísica, de Aristóteles, que cita o filósofo.
Manoel Messias
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